quinta-feira, 23 de julho de 2009

ERROS NA MEDICAÇÃO E CONSEQÜÊNCIAS PARA PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM E CLIENTES: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO


ERROS NA MEDICAÇÃO E CONSEQÜÊNCIAS PARA PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM E CLIENTES: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO

Viviane Tosta de Carvalho1
Silvia Helena De Bortoli Cassiani2

INTRODUÇÃO

Os medicamentos administrados erroneamente podem afetar os pacientes, e suas conseqüências podem causar prejuízos/danos, reações adversas, lesões temporárias, permanentes e até a morte do paciente, dependendo da gravidade da ocorrência.

Lesões não intencionais associadas à terapia medicamentosa têm afetado 1,3 milhões de pessoas por ano nos Estados Unidos da América e o custo relacionado à hospitalização do paciente devido ao efeito adverso chega a atingir, anualmente, 76,6 bilhões de dólares(1).

Importa ressaltar que, nos Estados Unidos da América, o número de pacientes atingidos anualmente, representa um montante de 60.000 a 140.000 pacientes. Destes, 31% vivenciam um evento adverso de medicação durante a hospitalização, e 0,31% destes apresentam eventos adversos fatais(2).

A classificação da severidade dos erros de medicação foi realizada por diversos autores(3-4) que avaliaram a gravidade do erro, segundo a necessidade de intervenções médicas, realização de tratamentos cirúrgicos e intervenções de enfermagem.

Muitas vezes, os erros de medicação só são detectados quando as conseqüências são clinicamente manifestadas pelo paciente, tais como a presença de sintomas ou reações adversas após algum tempo em que foi ministrada a medicação, alertando o profissional do erro cometido. Os profissionais de enfermagem deveriam estar alerta e, após administrada a medicação, esta deve ser documentada imediatamente no registro do paciente, possibilitando rapidamente a descoberta do erro pelo enfermeiro e a realização de intervenções que podem minimizar ou prevenir possíveis complicações ou conseqüências mais graves.

Infelizmente, as dificuldades para os relatos dos erros prejudicam a avaliação dos tipos e do número de erros registrados e, conseqüentemente, não é documentado o número real de erros ocorridos. O número de erros relatados nas instituições hospitalares representa apenas a ponta do iceberg, já que somente são informados quando há algum dano ao paciente. Apenas 25% dos erros são relatados pelos profissionais(5). O medo de punições, demissão, o sentimento de culpa e as preocupações com a gravidade do erro podem levar os indivíduos envolvidos a sub-notificarem o erro. As penalidades ao profissional envolvido variam conforme a gravidade das lesões corporais causadas ao paciente e o tipo de conseqüência. Os profissionais podem sofrer processos judiciais por negligência, imprudência, má prática, e ficar sob julgamento da legislação civil, penal e ética.

Os erros freqüentemente não são relatados devido ao medo das medidas administrativas que podem ser aplicadas ao profissional envolvido, de acordo com a gravidade do erro cometido.Concluiu-se que 29% dos erros de medicação ocorridos não foram relatados pelos enfermeiros devido ao medo das conseqüências punitivas, com as quais se procura cercear o relato espontâneo do erro(6).

Buscando identificar esse aspecto na realidade nacional, esse estudo foi planejado com o objetivo de identificar e analisar as conseqüências dos erros de medicação para o paciente e para os profissionais de enfermagem.

Pretendeu-se enfocar os aspectos relativos aos erros na medicação em uma instituição hospitalar, privilegiando, através dos relatos de profissionais de enfermagem, as possíveis conseqüências de erros cometidos ou conhecidos.

METODOLOGIA

O estudo foi realizado em um hospital universitário do Estado de São Paulo.

A população em estudo e atuante no setor era composta por 10 enfermeiros, 4 técnicos e 46 auxiliares de enfermagem. Foram excluídos os enfermeiros que estavam em cargo de chefia.

A amostra ficou constituída por 7 enfermeiros, 1 técnico de enfermagem e 23 auxiliares de enfermagem, sendo que, do total de enfermeiros, 1 estava em licença saúde, 1 recusou-se participar do estudo e 1 relato foi inválido. Do total de 46 auxiliares de enfermagem alocados, 11 recusaram-se a participar do estudo, 1 estava em licença saúde, 1 tinha sido demitido, 1 havia sido transferido para outro setor. Do total de 32 auxiliares de enfermagem entrevistados, 8 não recordaram nenhum fato e 1 apresentou relato inválido. Relatos inválidos foram considerados aqueles relatos vagos, imprecisos e incompletos, que não apresentavam as conseqüências dos erros tanto para pacientes como para profissionais de enfermagem.

Dos 4 técnicos entrevistados: 1 não recordou nenhum fato, 1 recusou participação e 2 forneceram relatos inválidos. Assim foram realizadas 31 entrevistas com 46 relatos de erros ocorridos e válidos. Relatos válidos foram considerados aqueles relatos completos e precisos sobre os erros ocorridos. Há de considerar que, em alguns casos, obteve-se mais de um relato por entrevista.

A técnica do incidente crítico consiste de um conjunto de procedimentos para a coleta de observações diretas do comportamento humano, de modo a facilitar sua utilização potencial na solução de problemas práticos e no desenvolvimento de amplos princípios psicológicos, delineando, também, procedimentos para a coleta de incidentes observados, que apresentam significado especial, e para o encontro de critérios sistematicamente definidos". O autor ainda define incidente como "qualquer atividade humana observável que seja suficientemente completa em si mesma para permitir inferências e previsões a respeito da pessoa que executa o ato"(7).

Portanto, o incidente crítico prevê a análise de uma ocorrência crítica que marcou as pessoas. Neste estudo, utilizamos uma adaptação da técnica do incidente crítico, já que foram abordados somente os aspectos negativos.

O instrumento de coleta de dados constou de um roteiro de entrevista para obtenção de relatos de erros ocorridos na medicação, de acordo com o objetivo do estudo. O instrumento foi submetido a um pré teste com uma enfermeira mestranda, atuante em um hospital, um técnico de enfermagem e um auxiliar de enfermagem, atuantes no hospital em estudo, porém em outro setor.

A coleta de dados foi realizada nos meses de agosto e setembro de 1999, após aprovação do estudo pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital em questão e o consentimento da divisão e diretoria de enfermagem da unidade.

Após o consentimento informado dos participantes do estudo, as entrevistas foram realizadas na própria instituição hospitalar, durante o período de trabalho e transcorreu, em média, de 15 a 30 minutos. A questão abordada foi: "Pense em alguma coisa negativa que ocorreu na administração de medicamentos recentemente, com pacientes da sua unidade. Pense em uma ocorrência que lhe chamou a atenção e resultou em um erro na medicação. Conte-me quais foram as conseqüências para o paciente e para o profissional".

As entrevistas foram gravadas em fita cassete e transcritas na íntegra, imediatamente após o seu término. Foi mantido o anonimato dos entrevistados.

Após a coleta dos dados, iniciou-se a análise das entrevistas, procedendo-se à leitura dos relatos e identificação e análise das conseqüências. CONSEQÜÊNCIA foi definida como o resultado do erro na medicação para o paciente e para o profissional envolvido.

RESULTADOS

As conseqüências dos erros foram classificadas segundo a pessoa afetada (pacientes e profissionais de enfermagem) e segundo o momento de sua ocorrência (até 24 horas e após esse período). Formaram-se assim quatro grupos de análise, a saber:

a) conseqüências para os pacientes nas primeiras 24 horas;

b) conseqüências para os profissionais de enfermagem nas primeiras 24 horas;

c) conseqüências tardias para os pacientes;

d) conseqüências tardias para os profissionais de enfermagem.

A Tabela analisa o primeiro desses quatro grupos, as Conseqüências para os pacientes nas primeiras 24 horas (48), relatadas pelos profissionais de enfermagem, agrupadas em 3 categorias:

1. Nenhuma reação ao erro- Nessa categoria foram incluídos 28 relatos, que indicavam que os pacientes não sofreram nenhuma reação adversa ao erro de medicação.

2. Alterações das condições gerais - Nessa categoria foram incluídos 15 relatos relacionados às alterações que causaram danos ou prejuízos temporários aos pacientes, divididos em: alterações das condições da pele (04)- presença de hematoma, edema, hiperemia do local, necrose tecidual; alterações dos níveis glicêmicos- hipoglicemia (04); alterações respiratórias - dispnéia (03); alterações cardiovasculares- taquicardia (02); alterações renais- diminuição da diurese e aumento do edema (01); alteração da rede venosa (01).

3. Outras - Estiveram incluídas: dor, infecção generalizada e parada respiratória. Em 03 relatos, o paciente apresentou dor devido ao erro, em 1 relato o paciente apresentou septicemia nas primeiras 24 horas seguidas ao erro de medicação, e, em 1 relato, o paciente recebeu a medicação errada (psicotrópico) e sofreu uma parada respiratória seguida por atendimento de urgência.

A Tabela analisa as conseqüências dos erros para os profissionais de enfermagem nas primeiras 24 horas, demonstrando o aumento do tempo dispendido pela equipe de enfermagem para a reversão do quadro, devido ao erro cometido e à necessidade de realização de intervenções extras pela equipe de enfermagem.

As conseqüências para os profissionais de enfermagem nas primeiras 24 horas (46), estão agrupadas na categoria: Intervenções de enfermagem segundo a prescrição médica. Entende-se por intervenções ou tratamentos a solicitação de procedimentos extras para reverter o quadro apresentado pelo paciente frente ao erro nessa categoria, foram incluídos 46 relatos assim descritos: verificação dos sinais vitais (10), interrupção da infusão endovenosa (7), administração de medicamentos extras por ordem médica (6), troca da punção venosa em quimioterapia (4), solicitação de exames extras (4), observação de enfermagem quanto a sinais de hipoglicemia e do local de infiltração de quimioterapia (3), procedimentos de dessensibilização do local de infiltração de quimioterapia (2), aplicação de gelo no local de infiltração de quimioterapia (2). Com algumas ocorrências apareceu irrigação da veia com soro fisiológico, manutenção de repouso no leito, realização de lavagem gástrica, revisão do gotejamento com reprogramação da bomba de infusão endovenosa, oxigenoterapia, administração de líquidos via oral com açúcar, nova prescrição e atendimento de urgência.

A Tabela 3 apresenta as conseqüências dos erros para os pacientes, após as primeiras 24 horas.

As Conseqüências tardias para os pacientes relatadas pelos profissionais de enfermagem foram agrupados em 4 categorias discriminadas abaixo:

1. Evolução e alta em boas condições gerais - Nessa categoria, obteve-se um total de 5 relatos, nos quais os pacientes evoluíram e tiveram alta em boas condições gerais.

2. Evolução e alta com presença de lesões - Nessa categoria, foram incluídos três relatos: em 1 relato o paciente teve necrose tecidual, realizou debridamento da região necrosada e obteve alta com presença de curativos no dorso da mão; o paciente teve alta com a presença de hematoma (1); o paciente teve alta com seguimento ambulatorial, devido à absorção gástrica de uma parte da quimioterapia administrada (1).

3. Hospitalização prolongada - Em três relatos os pacientes tiveram aumento no tempo de estada no hospital: o paciente que absorveu parte do quimioterápico e os dois pacientes que apresentaram hipoglicemia.

4. Óbito - Em dois relatos, ocorreu o óbito do paciente. Em um relato, o paciente apresentou infecção generalizada nas primeiras 24 horas e, após esse período, foi a óbito e, no outro relato, o paciente apresentou piora do estado geral, com alterações renais nas primeiras 24 horas e foi a óbito após 15 dias da ocorrência do erro, segundo informações dos profissionais.

Não obstante, afirmar que a morte dos pacientes foi devida ao erro de medicação, já que investigações mais completas, conhecimento do histórico, do diagnóstico do paciente, dados de exames laboratoriais e prognóstico do mesmo comparados ao erro ocorrido deveriam ser avaliados pela equipe médica e de enfermagem, para afirmar a relação entre o erro e o óbito.

As conseqüências tardias para os profissionais de enfermagem, extraídas dos relatos, bem como a freqüência com que ocorreram estão indicadas na Tabela 4.

Assim, as Conseqüências tardias para os profissionais de enfermagem estão agrupadas em 5 categorias, a seguir:

1. Advertência verbal - Realizada tanto pelo enfermeiro como pela diretoria de enfermagem. Nessa categoria, foram incluídos dezessete relatos.

2. Notificação da ocorrência - Nessa categoria, foram incluídos doze relatos em que os profissionais de enfermagem receberam um relatório seguido de advertência escrita, realizado pelo enfermeiro e diretoria da enfermagem.

3. Orientação - Nessa categoria, em onze relatos ocorreu apenas a orientação do funcionário pelo enfermeiro.

4. Advertência escrita - Em quatro relatos, o enfermeiro fez advertência por escrito para o profissional envolvido.

5. Demissão - Em dois relatos, ocorreu a demissão do profissional de enfermagem.

As medidas administrativas tomadas com a maioria dos profissionais envolvidos, segundo seus próprios relatos, foram: 1. advertência verbal, 2. notificação da ocorrência; 3.orientação; 4. advertência escrita e 5. demissão. O relatório não foi visto como forma de registro do erro, mas, sim, como uma penalidade a que os profissionais são expostos por terem cometido o erro.

Fica-se evidente que as medidas tomadas pela chefia são, na maioria, relatos de caráter punitivo. No entanto, tal medida pode acarretar subnotificações e diminuição dos relatos voluntários dos erros de medicação.

A chefia adota essa posição, na esperança de que os profissionais não cometam mais erros de medicação. É o que se depreende deste relato:

Você não deixa de fazer nada, mesmo que seja uma orientação verbal, eles têm que estar cientes do que eles fizeram, eu oriento verbalmente num primeiro atenuante, no segundo eu oriento por escrito e num grave até suspensão, é feita uma punição sim, não é passado em branco... (E.2).

Na elaboração do relatório, o funcionário é chamado para relatar quando, como e por que o erro ocorreu; é anotado o dia, a hora, o período do plantão; a assinatura do funcionário consta no final da descrição. A elaboração da notificação do erro, para muitos funcionários, já constitui uma penalidade.

Ressalta-se que o relato dos erros na medicação, a fim de que haja intervenções, deve ser enfatizado nas instituições, e que os mesmos devem ser avaliados e incorporados em um programa de melhoria contínua da qualidade(8).

Os relatos dos erros de medicação não devem ser vistos com esse propósito punitivo, mas como dados que permitam o desenvolvimento de ações educacionais e administrativas.

Na ocorrência de um erro na medicação, freqüentemente, não é dada ênfase na educação, mas, sim, na punição, lembrando que isso, ao invés de ajudar a prevenir, faz com que, cada vez menos, os erros sejam relatados, prejudicando o conhecimento de seus fatores de risco e possibilitando, assim, sua repetição(9).

DISCUSSÃO

Fornecer um ambiente seguro para a administração de medicamentos envolve um grande número de recursos, tanto físico (luminosidade, controle de temperatura, barulho, interrupções pessoais ou por telefone) como humanos (deficiência de conhecimentos, anos de experiência). Entretanto, tais condições não isentam os profissionais da responsabilidade exigida pelos danos que praticam.

É o dano sofrido pelo paciente que determinará a existência real do erro. O nexo causal estabelecido entre a causa (ato) e o dano, é condição indispensável para a comprovação dos fatos e para a determinação do grau da pena e indenizações em processos jurídicos, podendo comportar ações civis e penais(10).

Somente ao se identificarem os erros sistemáticos, é que o número real de erro pode ser reduzido. Para a autora, ações punitivas incutem o medo e a decepção e não têm lugar na prática atual. A autora salienta que ênfase na educação faz-se necessária para a modificação da prática atual(11).

A necessidade de educação profissional através da educação continuada, cursos de reciclagem ou treinamentos periódicos na administração de medicamentos é enfatizada para nós, pois, assim, os profissionais assumirão a parcela da responsabilidade que a profissão lhes confere, sem apresentar reações de medo perante o erro.

Temos consciência da dificuldade para a implementação e confecção de tais relatórios; entretanto, os responsáveis não podem esquivar-se de registrá-los, servindo como amparo legal na instalação de um processo ético, civil ou penal.

A crença vigente entre os administradores é a de que os erros são puramente responsabilidade dos indivíduos envolvidos, negando qualquer responsabilidade administrativa ou da instituição(8). Entretanto os erros representam um sistema "doente", e raramente o indivíduo é a única causa de um erro na medicação. Há de se avaliar o sistema e permitir que se evitem falhas.

Há a necessidade crescente da verificação das causas, índices e conseqüências dos erros na medicação, por parte das instituições hospitalares, uma vez que as taxas de erros na medicação representam matéria - prima para inúmeras investigações e constituem-se em indicadores para a melhoria do sistema hospitalar e da qualidade de assistência. Ainda, disseminar uma cultura de segurança que a inclua na medicação deve ser meta das instituições.

CONCLUSÃO

Por meio dos dados obtidos, foram identificadas as conseqüências dos erros de medicação ao profissional envolvido. Destaca-se que os relatórios foram vistos como ações punitivas, o que prejudica, sem dúvida, o relato voluntário e espontâneo ao se decidir por documentar ou não o erro.

É importante ressaltar a importância do ato de comunicar e documentar o erro de medicação e o benefício que esse ato pode trazer aos pacientes, amenizando os efeitos apresentados e impedindo o agravamento da suas condições físicas. As medidas administrativas tomadas deveriam enfatizar o relato correto como forma de registro para o hospital e como proteção legal, caso ocorra a licitação de um processo ético ou jurídico.

AGRADECIMENTOS

À FAPESP- Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, pelo recurso financeiro concedido.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Allen EL, Barker KN, Cohen MR. Draft guidelines on preventable medication errors. Am J Hosp Pharm 1992 Mar; 49(3):640-8.        [ Links ]

2. Classen DC, Pestotnik SL, Evans SR, Burke JP. Adverse drug events in hospitalized patients. JAMA 1997; 277(4):301-6.        [ Links ]

3. Cobb MD. Evaluating medication errors. J Nurs Adm 1986 Apr; 16(4):41-4.        [ Links ]

4. Ernest MA. A judgment of errors. Nurs Times 1991 Apr; 87(14):26-30.        [ Links ]

5. Hackel R, Butt L, Banister G. How nurses perceived medication errors. Nurs Manage 1996; 27(1):31-4.        [ Links ]

6. Barker KN, Mikeal RL, Pearson RE, Illig NA, Morse ML. Medication errors in nursing homes and small hospitals. Am J Hosp Pharm 1982 Jun; 39:987-91.        [ Links ]

7. Flanagan JC. A técnica do incidente crítico. Arq Bras Psicol Apl 1973 Abr/Jun; 21(5):99-141.        [ Links ]

8. Cassiani SHB. Um salto para o futuro no ensino da administração de medicamento: desenvolvimento de um programa instrucional auxiliado pelo computador. [tese]. Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP; 1998.        [ Links ]

9. Cohen MR. Banish a system that blames. Nursing 1996; 26(1):15.        [ Links ]

10. Gomes JCM. Erro médico: reflexões. Bioética 1994; 2(2):139-46.        [ Links ]

11. Pepper GA. Errors in drug administration by nurses. Am J Health Syst Pharm 1995; 52(15):390-5.        [ Links ]

Recebido em: 9.5.2000
Aprovado em: 22.4.2002

1 Enfermeira, Mestre, Resumo da dissertação de mestrado; 2 Orientadora do estudo, Professor Associado, e-mail: shbcassi@eerp.usp.br. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvimento da pesquisa em enfermagem

Revista Latino-Americana de Enfermagem - Preto July/aug. 2002

A MALDIÇÃO DO FARAÓ

Paulo Volker

 

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Enquanto as poderosas autoridades internacionais gastam a tecnologia bélica para eliminar supostos terroristas nas favelas cavernosas do Afeganistão, definindo o terrorismo como a praga desse novo milênio; enquanto as redes de Tv brasileiras fazem do voyeurismo a mais nova mania nacional; enquanto os ardilosos marqueteiros políticos tramam um modo de manter tudo como sempre foi no governo; enquanto a polícia ensaia um balé de truculência e representação cinematográfica contra a violência e a bandidagem, colocando tecnologias bélicas e digitais contra os prováveis meliantes escondidos nas favelas, uma nuvem verdadeiramente espetacular recorrentemente insiste em atacar o Brasil.

Essa nuvem negra, que já atinge um terço da humanidade, quase dois bilhões de pessoas, é formada por um ínfimo e desprezível indivíduo chamado Aedes aegypti. Natural lá dos confins ancestrais do Nilo, o mosquito vem derrubar a idéia Hollywoodiana de que a “Maldição do Faraó” vem em forma de múmias terríveis, vestidas de areias escaldantes, comandando um exército infinito de escaravelhos.

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Tudo bobagem. A maldição, para todos nós, que violamos o segredo das pirâmides, seja roubando pedaços da cultura egípcia, seja levando ataúdes para os museus, seja através das câmeras da National Geográfica, se faz presente no pratinho que recebe a água que escorre das nossas lindas margaridas ou na poça de água acumulada naquele velho pneu que guardamos no fundo do quintal.

O Faraó não poderia ter sido mais inteligente na sua maldição. Enquanto todas as fronteiras se protegiam das múmias e outros monstros terríveis, capazes de fazerem jus a toda tecnologia destrutiva de mísseis, bombas e balas de fragmentação, a sabedoria milenar dos egípcios nos manda um reles mosquito, fantasiado de pernilongo, caracterizado pelo capricho tebano de só gostar de água limpa.

Desta forma, encontra o mosquito, nas cidades desses mundos abaixo do segundo andar na escala civilizatória, campo fértil para proliferar e promover dores e febres, fazendo com que todos repitam e digam “Egito” novamente. Desta forma, enquanto o primeiro e o segundo mundo montam o teatro da sua sana prepotente, destruindo o já destruído, o terceiro, quarto e quinto mundos, sob a égide do “Aedes aegypti”, tremem com a doença.

Mesmo que os centros especializados de estudo e pesquisas, como o conceituado CDC do Departamento de Saúde dos EUA e outros centros brasileiros façam uma história já longa da Dengue, não podemos deixar de reconhecer a gravidade do sempre acontece nas cidades brasileiras.

O primeiro caso relatado, na ilha de Java, em 1779 e o de 1782 em Cuba devem indicar apenas um momento de maior apuração científica para a presença de um mosquito que existe há muito tempo.

A presença do mosquito no Brasil, em 1846 só anunciava a epidemia que iria acontecer em 1986 no Rio, que era uma preliminar da de 2002, que vem sendo apenas uma prévia do vem recorrentemente acontecendo nas cidades brasileiras, onde o sistema de vigilância epidemiológica é precário. Uma presença que anuncia muitas coisas e denuncia outras tantas.

Anuncia que o problema urbano brasileiro e mundial será desmoronado por seres insignificantes, como mosquitos, ratos e baratas, entre outros (talvez muito mais insignificantes do que imaginávamos, com essa pandemia de gripe); denunciam que nossas cidades e nossas casas são freqüentadas também por esses indivíduos que, talvez, sejam muito mais adaptados e domésticos do que possamos imaginar.

E nessa convivência íntima com esses indivíduos, representantes de várias nacionalidades, com idades que se perdem no tempo, somos nós, os humanos, os mais frágeis, inadaptados e sofredores.

O Aedes aegypti, por exemplo, quando nos visita de noite, nos deixa sete dias à beira da morte. Mas nosso inseticida e nossos larvicidas não conseguem acabar com a presença ostensiva desse súdito do Faraó.

Um fato, em meio de tantas desgraças, é relevante. A “Maldição do Faraó” não faz distinção de classes sociais. Com essa mania tebana de limpeza, o mosquito encontra berço em piscinas, banheiras de hidromassagem e jarras de cristal, dessas usadas para tornar a Don Perigon deliciosa – tudo usado no fim de semana e deixado depois ao leu.

BIOÉTICA – UM ENSAIO SOBRE SUA INSERÇÃO NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM ¹

Joice Maria Zanatta², Magali Roseira Boemer³

A proposta deste estudo foi realizar um ensaio com vistas à uma aproximação ao tema da Bioética. As autoras justificam o estudo, explicitando sua preocupação quanto ao preparo dos graduandos em enfermagem no seu lidar cotidiano com os dilemas bioéticos. Propõem a articulação dos conteúdos teóricos com as situações vivenciais dos estágios e com as demais disciplinas ministradas.

Para tanto foi realizada uma extensa revisão da literatura incluindo livros, artigos, dissertações e teses que abordam o tema da Bioética. Foi possível resgatar a gênese da Bioética no Programa Internacional e Nacional. Algumas publicações de enfermeiros foram encontradas.

Nos primórdios da cultura ocidental, a Ética foi a primeira preocupação que motivou a reflexão sobre as relações da humanidade. Desde os períodos mais arcaicos da civilização grega, as manifestações dessa reflexão inseriam-se na preocupação com a busca de significado da vida humana. Neste contexto, a Ética consiste no discernimento para encontrar, entre todos os interesses do indivíduo, do grupo, da nação e da humanidade, o critério de justa escolha. Ela não pode ser separada da experiência efetiva dos valores (SILVA, 1993).

Já a Bioética, ou ética aplicada à vida, surgiu nos Estados Unidos. Esta palavra foi, primeiramente, forjada por Van Rensselaer Potter, em 1971, mas o termo foi introduzido por André Hellegers. Potter imprimiu a ela um sentido ecológico: "ciência da sobrevivência". Já Hellegers restringe-a como ética das ciências da vida, particularmente considerada em nível do humano. Foi no plano de aplicação das biotecnologias ao homem, no domínio das ciências médicas que a bioética floresceu, em um ambiente marcado por grandes evoluções e sentimentos contraditórios. Ela emerge como novo domínio da reflexão e da prática, que toma como seu objeto específico as questões humanas na sua dimensão ética, tal como se formula no âmbito da prática clínica ou da investigação científica, e como método próprio a aplicação de sistemas éticos já estabelecidos ou de teorias a estruturar (NEVES, 1996).

A Bioética, inicialmente conceituada por Potter para referir-se à importância das ciências biológicas na melhoria da qualidade de vida, hoje é considerada como "o estudo sistemático da conduta humana na área das ciências da vida e aos cuidados da saúde, na medida em que esta conduta é encaminhada à luz de valores e princípios morais" (CLOTET, 1993).

A bioética, na atualidade, ocupa-se, principalmente, dos problemas éticos referentes ao início e fim da vida humana, dos novos métodos de fecundação, da seleção de sexo, da engenharia genética, da maternidade substitutiva, das pesquisas em seres humanos, do transplante de órgãos, dos pacientes terminais, das formas de eutanásia, entre outros temas. Os princípios da bioética, segundo Clotet, (1993) são: princípio da autonomia (é a autodeterminação real e universal do homem, independência da vontade, escolha individual); princípio da beneficência (ação voltada para o benefício do ser humano) e o princípio da justiça (tratar os iguais como iguais e os diferentes como diferentes na justa medida da sua desigualdade, reconhecer igualmente, sem distinção, o direito de cada um).

O termo Bioética é definido pela International Association of Bioethics, como: "estudos dos aspectos éticos, sociais, legais, filosóficos e outros aspectos afins inerentes à assistência médica e às ciências biológicas" (CAMPBELL, 2000).

Em 1995, a Bioética é definida, pela segunda Edição da Ecyclopedia of Bioethics, como sendo o “estudo sistemático das dimensões morais - incluindo visão, decisão e normas morais - das ciências da vida e do cuidado da saúde, utilizando uma variedade de metodologias éticas num contexto multidisciplinar” (PESSINI e BARCHIFONTAINE, 1994). Surge no panorama científico das novas descobertas como o estudo interdisciplinar dos problemas criados pelo avanço biomédico, pela nova direção dada na sociedade e seu sistema de valores, prevalecendo a imprescindível proteção da vida humana diante de todas as inovações técnico-científicas na área das ciências da vida.

De acordo com Lenoir (1996), a Bioética visa alertar as sociedades a respeito das conseqüências do avanço técnico-científico incontrolado e promover uma forma de controle democrático do processo de inovação técnico-científico. Essa autora lembra que o ensino da bioética aos profissionais de saúde deve ser provido de um caráter preciso e não limitar-se à reflexão geral de princípios; deve ser concebido como resultado da cultura geral do século XXI, permitindo a todos exercer suas responsabilidades próprias diante das novas situações provenientes do avanço das ciências da vida.

Segundo Gomes (1996), a formação ética do profissional de saúde deve ser iniciada nas disciplinas básicas do estágio pré-clínico com noções gerais de ética, um curso teórico e substantivo de introdução à Bioética, a ética aplicada ao ambiente do ensino e relativa ao respeito ao cadáver, aos mestres, animais de experiência e até à postura acadêmica. A razão da implantação da ética profissional de saúde está ligada à necessidade de formar uma consciência ética de relação ou imprimir, na personalidade do educando, um forte acento de respeito incondicional aos direitos fundamentais e também oferecer ao profissional de saúde a postura ética aprendida e estimulada, saudável e proveitosa na relação com o paciente, outros profissionais e a sociedade em geral.

Os profissionais da área de saúde devem conciliar, no seu exercício profissional, além da ciência e tecnologia, um sólido embasamento ético-moral. Um profissional competente é aquele que reúne qualificação científica, tecnológica e ética, ciente de que, frente a um dilema difícil, deve solicitar auxílio ao Comitê de Ética (FRANCISCONI, GOLDIM e LOPES, 2002).

No Brasil, apesar de a Bioética ter sido, de certa forma, "tardia" por ter florescido apenas nos anos noventa, ela cresceu significativamente conquistando admiração e respeitabilidade internacional. Diversas universidades brasileiras já iniciaram programas de pós-graduação lato sensu em bioética; além disso, os currículos de formação de futuros profissionais de campo relacionados às ciências da vida e da saúde estão procurando ir além da deontologia (ramo da ética que trata dos deveres), da medicina legal e da ética profissional, passando a contemplar, nas grades curriculares, conteúdos relacionados à bioética (GARRAFA e PESSINI, 2003).

O estudo de novas temáticas e discussões com o surgimento da Ética Prática ou Bioética propicia ao aluno o desenvolvimento da visão crítica sobre a pluralidade de valores que permeiam as relações em Saúde. As Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Enfermagem (CNE/ME/BR) reforçam essa perspectiva ao enfatizar a importância de conhecimentos em ética e bioética para a formação generalista do futuro profissional de Enfermagem (RIBEIRO, 2004).

Voltando o olhar especificamente para a Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP / USP), temos que ela foi fundada, em 1953, por Glete de Alcântara - primeira professora de Enfermagem da América Latina com o título de Professor Catedrático de História da Enfermagem e Ética (1963). A Escola teve seu primeiro programa curricular aprovado pela Lei 5.970/1960, quando ainda anexa à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP / USP). Este programa abordava a Ética Geral e a Ética Profissional. O primeiro dizia respeito à "moral teórica" como reflexão filosófica acerca das ações humanas, bem como noções conceituais fundamentais como “os valores, o bem, o direito, o dever, a obrigação e a responsabilidade" (ALCÂNTARA, 1966). O segundo centrava-se no estudo das normas que regiam o exercício da Enfermagem, baseado no "Código de Ética da Associação Brasileira de Enfermagem". Para doutora Glete, a concepção sobre o ensino e o papel da Ética para o curso de Enfermagem ultrapassava o ensino teórico: "Ele está integrado em todas as disciplinas do currículo, mormente nas de enfermagem, porque o estudante aprende Ética, sobretudo, com a vivência dos problemas que ocorrem diariamente e com o exemplo daqueles a quem está relacionado em todas as situações de aprendizagem" (ALCÂNTARA, 1966). Tal visão, do papel fundamental da Ética, perpassou todos os conteúdos disciplinares posteriores, elaborados na história dessa Escola.

Segundo Ribeiro (2004), o quadro atual da área de Ética no ensino de Graduação em Enfermagem na EERP/USP originou-se de uma reformulação das disciplinas, realizada a partir de 1998, que optou pelo desmembramento de História da Enfermagem, Ética Fundamental e Legislação, que se tornaram conteúdos ministrados separadamente, sob os títulos de História da Enfermagem, Fundamentos de Ética, Legislação em Enfermagem. Naquele mesmo ano, foi criada a disciplina de Bioética e foi extinta Antropologia Filosófica, incorporando-se muitos tópicos dessa disciplina em Fundamentos de Ética. Tal reformulação resultou em uma nova perspectiva para a formação ética do aluno, que passou a dispor de disciplinas voltadas para a ética filosófica, a ética normativa e a ética prática, ministradas nessa ordem, para que o aluno desenvolvesse um grau de compreensão e de maturidade necessárias para cada discussão durante o curso de graduação.

Simino e Boemer (2004) realizaram um estudo onde verificaram que a enfermagem possui periódicos de grande contribuição para o estímulo e divulgação de sua produção científica; no entanto, não existe um periódico que aborde, especificamente, temas bioéticos. Os artigos analisados nesse estudo totalizaram 27. Destes, 48,15% (13 artigos) enfocavam: o código de ética dos enfermeiros e a tomada de decisões éticas, o cuidado ao idoso segundo a perspectiva do profissional enfermeiro, a anotação de enfermagem, a comunicação entre os profissionais e o paciente, a autonomia do paciente e do enfermeiro e a relação entre os enfermeiros e outros profissionais. Sete artigos (26,92%) abordavam a organização da assistência ao paciente no que tange a regimentos que controlam pesquisas com seres humanos e sua importância, a tecnologia versus humanização no modelo assistencial vigente, o papel do enfermeiro frente a esses dilemas e princípios da autonomia e beneficência na humanização da assistência e dependência dos pacientes. Dois artigos  (7,41%) tratavam da estagnação da Bioética no modelo principialista, surgimento da corrente feminista e a Bioética refletida nas tecnologias reprodutivas. Outro dado encontrado foi que 75,51% dos autores desses artigos são enfermeiros docentes (doutores/doutorandos).

O levantamento e a revisão dos artigos realizados pelas autoras expressam o quanto é oportuna a afirmação de Lenoir (1996), ao dizer que o ensino da bioética aos profissionais de saúde deve ser provido de um caráter preciso e não limitar-se à reflexão geral de princípios. Considerando que a Bioética trata de questões altamente relevantes para os profissionais de Enfermagem, sendo a apropriação de seus conteúdos primordial em sua formação, ela não pode, de fato, restringir-se a princípios gerais.

Refletindo a respeito da formação no Curso de graduação em Enfermagem observamos que há hesitação, por parte dos graduandos, em lidar com situações que envolvam questões de natureza bioética por sentirem-se despreparados. Consideramos que o investimento acadêmico tem sido ainda muito pequeno e incipiente, sem grandes possibilidades para reflexão. Cremos que uma carga horária de 30 horas destinada à disciplina de Bioética seja pequena, para formar, nos alunos, uma consciência ética para lidar com os muitos dilemas bioéticos.

Algumas questões inerentes à profissão nos inquietam muito: Será que os graduandos de Enfermagem que estão cursando suas faculdades estão sendo bem preparados para lidar, na prática, com dilemas bioéticos? Será que estão desenvolvendo uma consciência a respeito do assunto ou, como disse Lenoir, estão refletindo apenas sobre princípios? Como a Bioética está se mostrando aos graduandos?

Participando do III Congresso Brasileiro de Tanatologia e Bioética, realizado em São Paulo/SP, em abril de 2005, foi possível ter uma visão mais ampla de como a Bioética está presente em nosso meio, de como ela se apresenta em nosso cotidiano. Esses dilemas se nos apresentam a toda hora, no exercício de nossa profissão.

Assim sendo, vemos a necessidade de nos debruçarmos sobre esta questão, realizando estudos com vistas a identificar qual o preparo que os graduandos de Enfermagem estão tendo em seus cursos para lidar, na prática, com dilemas bioéticos.

Tais estudos deverão voltar-se inclusive para a averiguação de uma integração da Bioética com as demais disciplinas curriculares, conforme já recomendava Alcântara (1966). Acreditamos que estudos dessa natureza possam ser realizados nas diferentes regiões do país, por diferentes pesquisadores de forma a podermos ter um diagnóstico da inserção da Bioética nos cursos de Graduação em Enfermagem.

Nesse sentido, o ensaio permitiu explicitar alguns questionamentos e propor novos estudos que possam identificar e analisar a inserção da Bioética nos cursos de graduação em Enfermagem. Muito embora um ensaio não se proponha a conclusões, o estudo possibilitou às autoras a gênese de questionamentos, reflexões e ponderações sobre a inserção da Bioética nos cursos de graduação em Enfermagem, abrindo possibilidades de investigações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALCÂNTARA, G. In: RIBEIRO, C. R. O. A contribuição da área de Filosofia, Ética e Bioética na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto– USP, 1966. on-line. Brazilian Journal of Nursing (objn-issn 1676-4285) [on-line], dezembro 2004.

BARCHIFONTAINE, C. P.; PESSINI, L. Problemas atuais de bioética. 2º ed. Brasil: Loyola, p. 367, 1994.

CAMPBELL, A. In: A Bioética no século XXI. Coleção saúde, cidadania e bioética, editora Universidade de Brasília, Brasília, 2000.

CLOTET, J. Por que bioética? Revista Bioética, v.1, n.1, p. 14-9, 1993.

FRANCISCONI, C. F., GOLDIM, J. R., LOPES, M. H. I. O papel dos Comitês de Bioética na humanização da assistência à saúde. Revista Bioética, v. 10, n. 2, p. 147-157, 2002.

GARRAFA, V.; PESSINI, L. Bioética: Poder e Injustiça. Editora Loyola, Brasília, p. 522, 2003.

GOMES, J. C. M. O atual Ensino da ética para os profissionais de saúde e seus Reflexos no Cotidiano do Povo Brasileiro. Revista Bioética, v. 4, n. 1, p. 53-64, 1996.

LENOIR, N. Promover o Ensino de Bioética no Mundo. Revista Bioética, v. 4, n. 1, p. 65-70, 1996.

NEVES, M. C. P. A fundamentação antropológica da Bioética. Revista Bioética, v. 4, n. 1, p. 07-16, 1996.

RIBEIRO, C. R. O, A contribuição da área de Filosofia, Ética e Bioética na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – USP, on-line Brazilian Journal of Nursing (objn-issn 1676-4285) [on-line], dezembro 2004.

SILVA, F. L. Breve Panorama Histórico da Ética. Revista Bioética, Título: Bioética, v. 1, nº. 1, p. 7 – 11, 1993.

SIMINO, G. P. R.; BOEMER, M. R. Enfoque Bioético na produção científica dos enfermeiros – caracterização e análise. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 57, n. 1, p. 40-3, 2004.

Texto recebido em 01/12/2005.
Publicação aprovada em 31/12/2005

1Trabalho desenvolvido durante o Programa de Iniciação Científica – PIBIC, 2005, sob orientação da segunda autora.

²Aluna do 3º ano do Curso de Graduação da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP/USP), 2005. Rua Benjamin Constant, 49, Centro – Jardinópolis/SP, CEP 14680-000, joicezanatta@yahoo.com.br

³Professora Livre-docente aposentada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP/USP). Coordenadora de projeto de pesquisa – CNPq. Rua Bernardino de Campos nº30 ap 1001 Centro - Ribeirão Preto, SP, CEP: 14015 – 130, boemer@eerp.usp.br

BIOÉTICA E ENFERMAGEM

Cássia Regina Rodrigues NunesI; Amauri Porto NunesII

IEnfermeira. Mestre em Enfermagem Fundamental. Especialista em Bioética e Enfermagem Médico-Cirurgica. Docente da Faculdade de Medicina de Marília, disciplina de Ética e Bioética e Enfermagem Clínica.
IIEnfermeira. Mestre em Cirurgia. Especialista em Bioética e Cirurgia Vascular. Docente da Faculdade de Medicina de Marília. E-mail do autor: enfermag@famema.br

1 Introdução

A bioética surgiu na década de 70 como um novo campo de conhecimento, onde o interesse era de resgatar as ciências humanas, na área das ciências duras: matemática, física, química, principalmente nas ciências biológicas e na medicina. Isso se deu após um período de pensamento crítico em relação ao do capitalismo inconseqüente, que gerou grandes males à civilização, no sentido de fortalecimento de valores individualistas, no sentimento de posse e poder.

Historicamente, sabemos que a aventura do conhecimento na civilização ocidental é estabelecida pela maioria dos pensadores como tendo sua origem na Grécia antiga, com o aparecimento dos primeiros pensadores. Foi lá que pela primeira vez houve uma tentativa de sistematização do conhecimento para se explicar o mundo.

Após um período de obscuridade, durante a idade média, houve o surgimento do desejo de explicação racional do mundo. Até então, não havia distinção entre ciência, filosofia e arte, pode-se dizer que eram praticamente sinônimos, englobados pela filosofia.

Por volta do século XIX, a nova ciência empírica que nascera dentro da filosofia, adquiriu maioridade e buscou sua independência das ciências humanas. Um movimento filosófico, chamado positivismo, tomou força e fortaleceu a supremacia das ciências empíricas sobre as metafísicas, das quais faziam parte principalmente as ciências que hoje conhecemos como ciências humanas ou humanidades.

Nesse período criou-se uma dicotomia entre ciência e as ciências humanas, que posteriormente viria a solidificar-se em ciência verdadeira. As únicas disciplinas que poderiam ostentar o título de ciência seriam aquelas que partilhassem do método científico, ou seja, passíveis de comprovação empírica, pensamento esse que representa o cerne do positivismo.

Naquele momento havia realmente necessidade da afirmação das novas ciências nascentes, para que essas se libertassem das amarras impostas pela religião e pela própria metafísica. Esse processo de divórcio entre as ciências empíricas e a filosofia, representou uma forma de busca de legitimidade e auto-afirmação das ciências empíricas. Porém, essa separação e podemos dizer até esse antagonismo, entre o saber empírico e o saber reflexivo trouxe também conseqüências maléficas para ambos.

No momento em que as ciências empíricas se distanciaram das ciências humanas, perderam a capacidade de percepção e auto-reflexão sobre si mesmas, perderam a capacidade de auto-crítica e principalmente a possibilidade de gerar sentido em suas atividades.

Em 1970 o oncologista americano Van Rensselaer Potter cunhou o neologismo Bioética para expressar uma nova ciência que deveria ser o elo de re-ligação entre as ciências empíricas e as ciências humanas, mais especificamente a ética. Essa união teria como finalidade a preservação da vida no planeta, visto que o desenvolvimento científico sem sabedoria poderia por em risco a própria vida na terra.

2 Abrangência

A noção de bioética tem sofrido várias mutações nesses últimos anos, mas nos parece que, a mais interessante e frutífera continua sendo a original proposta de Potter(1). Ele primeiramente sugeriu uma Bioética ponte, com a intenção de unir ciência e filosofia para promover a sobrevivência. Mais tarde, esta evolui para a bioética global, visto a necessidade de fusão da ética biomédica com a ecologia, numa escala mais ampla, com a mesma finalidade, trazendo à discussão questões de saúde pública a nível mundial. Sua missão continua sendo o desenvolvimento da ética para a sobrevivência humana sustentável em longo prazo. Posteriormente, sugere a bioética profunda devido à necessidade de ampliar mais a discussão da bioética, pois a ciência é demasiadamente importante para estar nas mãos somente dos cientistas. A bioética profunda faz nexo entre as descobertas genéticas, conduta ética e a bioética global. A pergunta que Potter fez e que devemos fazer é: Que tipo de futuro teremos? Teremos alguma opção? Que futuro teríamos frente a um progresso e avanços materialistas próprios da ciência e da tecnologia? A resposta estaria no conceito filosófico de progresso que põe ênfase na sabedoria de grande alcance.

A ciência sempre nos colocou todas as possibilidades de descobertas e tornou-se inquestionável o valor da evolução tecnológica, porém hoje se pergunta: tudo o que posso fazer eu devo fazer?

A tese era de que havia sinais de que a sobrevivência de grande alcance da espécie humana, em uma civilização sustentável, requereria o desenvolvimento e manutenção de um sistema ético(1).

A ética se dedica ao estudo do comportamento na busca de uma melhor maneira de agir. Quando falamos será que devo fazer isso ou aquilo, quando faço escolhas baseio-me apenas em minhas experiências de vida. Mas o agir ético vai além de um agir intuitivo ou baseado em experiências prévias de vida. Além das experiências vividas, costumes e tradições, a ética propõe que nossas ações sejam guiadas por princípios e, principalmente, por uma reflexão contínua.

Refletir é repensar nossa própria maneira de ser, é pensar sobre as situações da vida, tentando entender as causas que as influenciam e as conseqüências das mesmas, somente a partir de um entendimento mais amplo sobre as situações é que podemos julgar, tomar decisões e agir. Isso é agir criticamente, o que exprime verdadeiramente uma ação consciente. É portanto, desenvolver nossa capacidade de pensar, analisar os fatos da vida, e nos considerarmos sujeitos e não objeto de uma história construída. Não devemos adotar uma postura conformista, pensar que as coisas não podem ser mudadas para melhor, que as coisas acontecem independente de nossa intervenção. Se em todo momento colocarmos uma questão para nós mesmos, se devemos agir assim, e procurarmos respostas entendendo que o que cada um faz não tem conseqüências só para si ou somente para os outros, estaremos modificando nossa história. Tudo o que fazemos tem conseqüências para todos, porque a todo tempo estamos reproduzindo ou construindo valores novos, porque fazemos parte de um todo, como espécie, como humanidade, como natureza.

A nossa maneira de pensar foi completamente influenciada pela nossa história e assim se deu o não acompanhamento da evolução das ciências empíricas conjuntamente ao das ciências humanas reflexivas. Essa incongruência entre conhecimento e sabedoria começou a gerar conflitos na vida cotidiana.

Neste sentido a bioética tem um campo de reflexão bastante amplo, através dos modelos teóricos desenvolvidos que ajudam a pensar sobre as situações da vida ou de conflito, cotidianas, de limite e de fronteira e, também, classificadas como problemas emergentes e persistentes.

Dentre os vários modelos teóricos desenvolvidos citamos: o principialismo, o cantextualismo, o personalista humanista e o feminista. Todos o fazem de maneira profunda e é extremamente importante estudarmos cada um deles, mas podemos dizer que, diante desses modelos que analisam o mundo em que vivemos e como nos relacionamos com ele, vários são os princípios que muitos deles reforçam para que nossa existência possa ser mais pacífica e duradoura. Alguns deles são: a solidariedade, a alteridade e a justiça. Muitos pensadores têm discutido a impossibilidade hoje de se estabelecer princípios universais, diante da diversidade moral e pluralidade de valores existentes. Assim se torna necessário o exercício também da tolerância, do reconhecimento das razões alheias e a importância do diálogo para entrar num consenso, nunca coercitivo, mas com alguns requisitos para se chegar a um entendimento. Perguntamos, é uma missão fácil? Colocar-se no lugar do outro, compreendê-lo, desfazer-se do egoísmo, da competitividade ingênua ou manipulada, da busca do controle, da dominação, do poder, do acúmulo de riquezas, da exploração, da competitividade, tudo isso não é fácil e não mudamos por mudar. É por isso que precisamos entender que temos boas razões para isso.

3 Conclusão

Existe hoje um grande número de produções nessa área que ajudam a nortear nossa ação enquanto cidadãos, que buscam qualidade de vida e a preservação da vida no planeta. Ampliar nosso conhecimento nesse sentido é buscar evoluir num posicionamento crítico, isto é, preocupar-se com o modo de ser: pensamento-julgamento-ação, em relação aos seres humanos entre si e com a natureza.

A bioética portanto, coloca-se na contínua busca da sabedoria, da crítica, do uso da informação e do conhecimento para melhorar as condições de vida e preservação da mesma. É poder combinar humildade, responsabilidade e racionalidade, voltados tanto para o bem estar do indivíduo, quanto da coletividade.

Para finalizar, colocamos o pensamento de Mill(2) em relação à preservação da individualidade na busca desse bem estar, que está intrinsecamente ligado ao ser e conviver em sociedade: Liberdade consiste em ser inteiramente si próprio, fazer o próprio bem do seu próprio jeito, sem privar o outro do bem deles.

Referências

1. Potter VR. Bioethics:Bridge to the future. Englewood Cliffs (NJ); Prentice-Hall Inc; 1971.         [ Links ]

2. Mill JS. Da Individualidade, como um dos elementos do Bem Estar. In: Da Liberdade. São Paulo: Ibrasa; 1963.         [ Links ]

GENOMA HUMANO

 

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A empresa Celera Genomics vai divulgar gratuitamente, no outono (do hemisfério norte), seu mapa do genoma humano, mas venderá suas interpretações do mapa entre pesquisadores e empresas farmacêuticas, anunciou nesta segunda-feira seu presidente, Craig Venter.

O Projeto Genoma Humano praticamente já completou o sequenciamento dos mais de 3 bilhões de bases de DNA de nosso genoma (conjunto de genes que define nossas características) e logo terá mapeado a posição correta dos genes nessa estrutura imensa

É por isso que J. Craig Venter, presidente da Celera Corp., que entregou o texto do genoma à "Science", disse a um jornalista no ano passado: "Nós não sabemos merda nenhuma sobre biologia".

Ian Wilmut, líder da equipe de cientistas que clonou a ovelha Dolly

biólogos moleculares como James Watson seriam livres para fazer o que quisessem. Para saber por que isso é complicado, basta olhar para o próprio Watson e para outros co-autores de "Engineering the Human Germline: An Exploration of the Science and Ethics of Altering the Genes We Pass to Our Children" (Engenheirando a Linhagem Genética do Homem: Uma Exploração da Ciência e da Ética de Alterar os Genes que Passamos a Nossos Filhos, Oxford University Press). Esse livro de ensaios (208 páginas) também contém a fascinante transcrição de um painel de 1998 sobre quão longe o homem poderia ir na modificação dos genes de espermatozóides e óvulos. Hoje em dia, quase todos os testes de terapia gênica são dirigidos a partes específicas do corpo e afetam apenas o paciente envolvido. Essa nova terapia iria alterar os genes passados às gerações futuras. Watson, o co-descobridor da estrutura em dupla hélice do DNA, irrompe com seu vigor catalítico, fustigando o que vê como "preconceitos" morais e sociais contra o avanço da ciência e da medicina. O homem não deveria apenas "tentar a terapia da linhagem genética sem saber completamente se ela vai funcionar", diz Watson: "Se pudesse fazer seres humanos melhores sabendo como adicionar genes, por que não fazê-lo?"

Armas nucleares parecem bem distantes da genética, mas, numa aliança inédita desses campos, a Celera Genomics, os Laboratórios Nacionais Sandia e a Compaq vão se unir para desenvolver o que poderá ser o supercomputador mais rápido do mundo.
Segundo o acordo, Compaq e Sandia vão criar um supercomputador com capacidade para 100 trilhões (1014) de operações por segundo, cerca de oito vezes a velocidade de pico da máquina mais rápida existente. A Celera participará dando conselhos sobre as características do computador que os pesquisadores de biociências poderiam usar em seu trabalho.
Enquanto isso, o Sandia, que tem anos de experiência no uso de supercomputadores para a simulação de explosões nucleares, vai ajudar a Celera a desenvolver softwares para analisar dados biológicos. O Sandia também vai ajudar a adaptar os programas existentes na Celera para que possam funcionar em supercomputadores que usam milhares de processadores, trabalhando em paralelo, para acelerar os cálculos.

A EMPRESA DO TRÁFICO

 

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O organograma abaixo descreve como funciona a empresa do tráfico de cocaína. Sua ponta forte está na Colômbia, onde a droga é produzida. A outra está nos lugares onde é vendida aos viciados. O negócio é dividido em quatro níveis. Os personagens escolhidos para ilustrar o quadro são os exemplos mais conhecidos em cada nível

  1º NÍVEL
INDUSTRIAIS 
Dominado pelos colombianos. São donos de 98% do mercado 
FATURAMENTO ANUAL
Os cartéis movimentam bilhões de dólares 
CLIENTES
Transportadores que atuam no mercado internacional 
EXEMPLOS
No passado: Pablo Escobar
Hoje: Hernán Giraldo Serna, apontado como sucessor de Escobar, tem um exército pessoal de 400 homens 

2º NÍVEL
TRANSPORTADORES
São os brasileiros que têm ligação direta com os cartéis. Transportam toneladas de pó. Os brasileiros chegam no máximo a este nível 
FATURAMENTO
Remessas de até 50 milhões de reais 
CLIENTES
Traficantes, como Fernandinho Beira-Mar 
EXEMPLO
Antonio Mota Graça, o "Curica", acusado de traficar 9 toneladas 

3º NÍVEL
ATACADISTAS
Suprem os traficantes que atuam em morros e favelas 
FATURAMENTO ANUAL
Cerca de 3 milhões de reais 
CLIENTES
Os traficantes que fornecem a droga em papelotes ao consumidor final 
EXEMPLOS
A polícia estima que dezenas de traficantes atuem neste segmento. Em São Paulo: Sônia Aparecida Rossi, a "Maria do Pó"
No Rio de Janeiro: Luiz Fernando da Costa, o "Beira-Mar" 

4º NÍVEL
ATACADISTAS
Pela estimativa da polícia, milhares de traficantes atuam neste segmento
FATURAMENTO ANUAL
Milhares de reais 
CLIENTES
Viciados 
EXEMPLOS
No passado: José Carlos dos Reis Encina, o "Escadinha"
Hoje: Márcio Amaro de Oliveira, o "Marcinho VP", e Celso Luiz Rodrigues, o "Celsinho da Vila Vintém" 

Ao anunciar à imprensa internacional a captura de Luiz Fernando da Costa, o "Fernandinho Beira-Mar", ocorrida em abril na selva colombiana, o ministro da Defesa daquele país, Luiz Fernando Ramirez, afirmou: "Prendemos um dos mais importantes traficantes da atualidade". A notícia correu o mundo nesses termos. O New York Times e a rede de televisão CNN abriram espaço para contar a história de Freddy Seashore, como o criminoso é chamado em inglês. O governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, ficou tão feliz com a captura que chegou a declarar o seguinte: "Ele controla mais de 6 000 pontos-de-venda de drogas no Brasil e tem um capital de mais de 100 milhões de dólares". Garotinho previu que a prisão de Fernandinho provocaria uma queda expressiva no volume de cocaína em circulação no Brasil e uma conseqüente elevação no preço do pó. Até então, essa inflação só havia sido registrada em 1993, ano da morte do maior traficante de todos os tempos, o colombiano Pablo Escobar. A versão de que o Brasil prendeu um dos maiores traficantes do mundo tem um problema: Fernandinho não é um megatraficante. Nem está perto disso.

A importância de um traficante é definida pela polícia de todo o mundo segundo um quadro com quatro níveis, uma espécie de organograma da narcoempresa. O mais elevado dos níveis, o dos chefões internacionais, é ocupado apenas por colombianos. No passado, esse cargo era de Pablo Escobar. Hoje, a polícia caça um sujeito apontado como seu sucessor, um tal de Hernán Giraldo. Diz-se a respeito dele que possui um exército com mais de 400 homens e que remete algo como 3 bilhões de reais em cocaína por ano para os Estados Unidos e Europa. O segundo nível é preenchido pelos chamados "transportadores". O país onde eles agem com maior força é o México. Há alguns brasileiros atuando como transportadores. São homens que negociam diretamente com os cartéis da Colômbia e movimentam grandes partidas de cocaína, sempre na casa da tonelada. Pelo menos três brasileiros desse naipe foram localizados nos últimos dez anos. Um deles, Antonio Mota Graça, o "Curica", foi preso acusado de ligação com uma carga de cocaína avaliada em 50 milhões de reais. Outro, o americano radicado no Brasil Paul Lir Alexander, preso nos Estados Unidos, tinha um patrimônio de 23 milhões de reais, e o último, que ainda está sendo investigado, controla uma frota de mais de vinte aviões, com participações em onze empresas de fachada. O terceiro nível abriga dezenas de traficantes no Brasil. Eles compram cocaína em lotes de algumas dezenas de quilos e distribuem para pequenos traficantes (quarto nível), que atendem aos viciados nos morros e nos bairros de periferia. Fernandinho atuava na terceira faixa de "mercado".

  M. Lembo
Reuters
Queima de cocaína no Brasil e o presidente Pastrana, da Colômbia, ao lado de guerrilheiro das Farc: o desafio das drogas é global

O papel desempenhado por Beira-Mar na estrutura do pó já era conhecido no meio policial. "Esse cidadão não passa de um intermediário", diz Romeu Alves Ferreira, coronel da reserva do Exército do Rio, que há dez anos estuda o narcotráfico no Brasil. "Ele é o típico bandido de favela que cresceu rapidamente no mundo do crime e estava tentando dar um passo mais largo", afirma. O coronel Ferreira mantém em seu computador um questionário com 35 itens para encaixar os traficantes conhecidos num dos quatro níveis. Esse questionário confirmou Beira-Mar no terceiro escalão. O resultado dessa análise foi submetido por VEJA a quinze especialistas no assunto. Apenas um, o secretário de Segurança do Rio, Josias Quintal, discordou da avaliação. Procurado para falar sobre o tema, a primeira reação do secretário foi afirmar que Beira-Mar era o maior traficante do Brasil. Apresentado aos dados que situam Beira-Mar em uma posição mais modesta, Quintal adotou postura cautelosa: "Não tenho condição de avaliar o tráfico em todo o Brasil", afirmou. "Só posso falar pelo Rio, onde seguramente ele é o maior."

Beira-Mar foi transformado num megatraficante por causa de um conjunto de fatores políticos. O primeiro apareceu na eleição de 1998. O governador Garotinho concorreu ao cargo empunhando a bandeira do combate ao crime organizado. Meses após a posse, criou uma equipe de policiais só para investigar Beira-Mar, foragido de um presídio em Minas Gerais. O segundo episódio ocorreu em virtude da CPI no Congresso Nacional para tratar do narcotráfico. Depois de constatar que não teriam meios de produzir grandes novidades, os deputados se concentraram nos traficantes mais conhecidos pela mídia, entre eles Fernandinho. Detalhe: mesmo foragido, o traficante vivia dando entrevistas em rádios e jornais, ameaçando "entregar todo mundo", como dizia. Para reagir a suas provocações, a Polícia Federal e os policiais cariocas montaram uma megaoperação para capturá-lo. Pressionado, Fernandinho mudou-se para a Colômbia. Lá, seu nome serviu a um terceiro propósito de fundo político. Há uma corrente política que advoga a tese de que as Farc devem ser combatidas a bala, sob o argumento de que dão abrigo a traficantes. Há vários indícios dessa ligação, mas faltava uma prova definitiva. E ela apareceu quando o Exército colombiano teve a notícia de que um megatraficante brasileiro estaria escondido entre os guerrilheiros. Montou-se uma estratégia para caçar Fernandinho e outra, muito bem organizada, para dar relatos diários à imprensa sobre os progressos alcançados.

Fernandinho Beira-Mar não é um bagrinho qualquer. Primeiro porque, em treze anos de carreira criminosa, construiu um bom patrimônio. De acordo com levantamento feito pela polícia até o momento, seus bens conhecidos giram em torno de 4,5 milhões de reais, incluindo na conta imóveis registrados em seu nome e no de laranjas. Ou seja, é alguém que conseguia guardar algo como 30.000 reais por mês no período. Outro dado que o distingue da maior parte dos bandidos é o temperamento violento. Num diálogo assustador captado pelo grampo da polícia, Beira-Mar mandava cortar o braço, os pés e a orelha de um inimigo, "devagar, pedaço por pedaço". Antes de ser assassinada com cinco tiros, a vítima foi obrigada a comer a própria orelha.

Por muito tempo, o Brasil não passou de um corredor alternativo para que a droga produzida na Colômbia chegasse aos Estados Unidos e à Europa. Numa segunda fase, parte da droga começou a ser comercializada também no mercado interno. Hoje, o país disputa o segundo lugar entre os maiores consumidores de tóxicos, atrás apenas dos Estados Unidos. Há um debate internacional sobre a melhor forma de lidar com o problema. Uma corrente prega a liberação total das drogas. Outra, adotada pelos Estados Unidos e também defendida pelas autoridades brasileiras nos seminários temáticos, fala numa combinação de esforços em duas frentes: a educativa, que tem por objetivo reduzir o interesse dos jovens pelas drogas, e a policial, que visa a diminuir a oferta. Há uma opinião predominante entre os especialistas. A repressão mais eficaz é aquela feita sobre os megatraficantes, os que mexem com toneladas. A prisão de um barão acaba desmontando uma quadrilha pela cabeça. É ótimo que a polícia tenha conseguido trancafiar Beira-Mar. Mas, ao sugerir que prendeu um chefão do tráfico, passa à sociedade a idéia de que está trabalhando segundo as regras do manual. Indiretamente, vende a impressão de que o país está até mais seguro, pois se livrou de um tubarão. Infelizmente, os verdadeiros chefões ainda estão soltos. Em tempo: a droga no Brasil (e também no Rio) não aumentou de preço após a prisão de Freddy Seashore.

População com mais de 60 vai dobrar até 2050


Folha de Säo Paulo-  2002

Hoje, uma em cada dez pessoas do mundo tem 60 anos ou mais, e, até 2050, o número será de uma em cada cinco, segundo um estudo da ONU sobre envelhecimento e população divulgado ontem.
A população idosa em si também está envelhecendo. Segundo o estudo, o grupo dos mais idosos entre os idosos -de 80 anos ou mais- é o que cresce mais rapidamente, representando 12% das pessoas de 60 anos ou mais.
Em 2050, estima a ONU, 21% dos idosos terão 80 anos ou mais, e o número de pessoas de cem anos ou mais aumentará 15 vezes, atingindo 3,2 milhões em 2050.
Desde 1950, a expectativa de vida média mundial subiu 20 anos, chegando aos atuais 66 anos.
Hoje, uma em cada dez pessoas tem 60 anos ou mais. Em 2050, o número deve ser de uma em cada cinco, e, em 2150, de uma em cada três. Em 2050, pela primeira vez na história, o número de pessoas de 60 anos ou mais deve ser maior do que o de crianças de até 14 anos de idade, estima a ONU.
As mulheres, na média, ainda vivem mais que os homens. Ao completar 60 anos de idade, os homens podem esperar viver mais 17, e as mulheres, 20 anos ou mais, afirma o documento.
Há hoje 81 homens de 60 anos ou mais para cada cem mulheres da mesma faixa etária. No caso do grupo de 80 anos ou mais, há 53 homens para cada cem mulheres.

Clone tem espírito?

Presb. José de Arimatéa Menezes Lucena*
jlucena@terra.com.br 

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O clone é uma multiplicação assexuada de um indivíduo. É uma forma de propagação assexuada, muito comum, no reino vegetal. Mas, no reino animal não existe clone animal, pois a forma de reprodução é a sexuada. O cientista escocês Ian Wilmut, em 1996, revolucionou o mundo científico ao anunciar a criação de um clone animal, que foi a ovelha Dolly. Uma reprodução assexuada de um animal adulto, a partir da fusão de um núcleo celular com um óvulo. Quando a forma de reprodução animal normal é a junção de um espermatozóide com um óvulo.

Essa técnica permite obter clone animal de qualquer espécie. Cientistas chineses anunciaram, recentemente, que obteve o embrião clonar do urso panda, espécie ameaçada de extinção. Eles vão colocar o embrião no útero de uma ursa, que servirá como mãe de aluguel.

A técnica anunciada permite obter clone humano. Os governos dos países ricos anunciaram que não financiarão pesquisas de clonagem humana. A ética e a religião também têm combatido, fortemente, esse tipo de pesquisa. Mas, sabe-se de cientistas, que não aceitaram se submeter a essa determinação, por entender que tudo é válido para o progresso da ciência. São pessoas que não têm temor a Deus.

Mas, se o homem chegar a desenvolver o clone humano, será que ele terá espírito? A revista Veja, de 21.07.1999, traz a seguinte indagação: Clone tem alma? Alma aqui se refere ao espírito. Adiantamos que concordamos com a corrente teológica da tricotomia, isto é, a de que o homem tem corpo, alma e espírito. Já a corrente dicotômica diz que o homem tem apenas corpo e alma. A citada revista colheu opinião de algumas pessoas sobre essa pergunta. O Frei Leonardo Boff diz: “o clone tem alma, porque não existe corpo sem alma e vice-versa”. Moacyr Petrone, da Federação Espírita do Estado de São Paulo, diz que tem alma. O rabino Henry Sobel diz: “clone não tem alma, porque alma é algo divino”. Para o Frei Marcio Couto, de São Paulo, existem dúvidas: “Se o ser clonado fosse apenas uma espécie de robô, é claro que não haveria alma; mas se esse ser adquirisse consciência e liberdade teria alma, sim”. O Pastor Nilson Fanini, da Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro, diz: “a alma é criada por Deus. Através da lei da transmissibilidade é passada de pai para filho”. E, para a mãe de santo Sylvia de Oxalá, de São Paulo: “desde que tenha vingado, tem alma. Onde houver um sopro de vida há alma”.

Dentro de nossos parcos conhecimentos, acreditamos que o clone humano não terá espírito. Porque Deus, ao criar o homem à Sua imagem e à Sua semelhança, soprou o fôlego de vida nesse homem, elemento este que os animais não tem. Essa parte espiritual é que faz a grande diferença entre os homens e os animais. O apóstolo Paulo mostra que o homem tem corpo, alma e espírito. Vejamos o que ele nos diz: “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito e alma, e corpo...” (1 Tes. 5. 23). A alma corresponde as emoções, a consciência, a inteligência. Os animais têm apenas essas duas partes. O clone humano, no nosso entender, terá apenas corpo e alma. Não terá a essência divina, que é o espírito. O Espírito de Deus se comunica com o espírito do homem. O crente espiritual vive em comunhão com Deus e entende as coisas espirituais. O homem quando aceita a Cristo como Salvador, nasce de novo. Ele estava morto espiritualmente e passou a ter vida. Mas, ele tinha a parte espiritual, só que estava morta devido ao pecado. Vejamos o seguinte: A Bíblia diz que Deus, em Seus propósitos, escolheu um povo para fazer parte da Igreja de Cristo, antes da Fundação do mundo. Se Deus chamou, por exemplo, José da Silva para formar este povo. Então, José da Silva passa a ter vida espiritual e passa a ter uma nova dimensão, a qual o homem natural não a tem. Agora, admitamos que o homem resolvesse criar dez clones de José da Silva. Dessa forma, teríamos uma série de réplicas de José da Silva, isto é: José da Silva I, José da Silva II, José da Silva III ... e José da Silva X. José da Silva, o original, tem corpo, alma e espírito. Os clones apenas corpo e alma. Estes clones não fazem parte da Igreja de Cristo. Simplesmente porque não foram escolhidos por Deus, antes da fundação do mundo. Eles são obras da criação do homem e não foram criados por Deus. Portanto, não têm o elemento divino, essencial para a comunicação com Deus. O Senhor Jesus morreu na cruz por José da Silva, obra das mãos de Deus. Ele não morreu pelo batalhão de clones de José da Silva, criado pelo homem. Estes clones humanos jamais ouvirão a voz do Espírito de Deus, chamando-os para fazerem parte de Sua Igreja, porque eles não estão nos planos eternos de Deus. São frutos da louca sabedoria humana.

             Como o clone terá corpo e inteligência, ele terá o corpo e a inteligência daquela espécie. Por exemplo: o clone de uma ovelha terá corpo e inteligência de ovelha, como é o caso da ovelha Dolly, que é um clone animal. O clone do urso panda, que brevemente nascerá, terá o corpo e a inteligência do urso panda. E assim, qualquer clone animal terá o corpo e a consciência dos animais de sua espécie. Semelhantemente será o clone humano. Ele terá corpo e alma, porém não terá o espírito, porque este quem dá é Deus e não o homem, porque está é uma essência Divina. O clone poderá ser dócil ou arisco, dependendo de suas emoções. Satanás aprisionou o homem a nível de alma. Ele tem influência sobre suas emoções. De maneira que ele terá forte influência sobre o clone humano, porque este não terá, em sua estrutura, a parte divina. O homem foi feito bom. Mas, ao pecar, teve todas as partes de sua natureza corrompidas. De modo que, o bem e o mal passaram a fazer parte do ser humano. O apóstolo Paulo mostra a luta interna no homem, entre o bem e o mal: “Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim; que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou!” (Rm. 7. 15-24). Diante do que o apóstolo Paulo diz sobre a lei do pecado dominando o homem que tem a essência divina. Agora, imagine a sua influência sobre um clone humano, o qual não tem a essência divina.

O homem, nos dias de hoje, ainda escuta a mesma mentira que Satanás jogou para Eva, dizendo: “...sereis como Deus... (Gen. 3.5). E nessa busca incessante ele quer ser semelhante ao Criador, fazendo também a sua criatura. Quando a sua obrigação é temer a Deus e guardar os seus mandamentos, pois este é todo o dever do homem. Assim procedendo irá usufruir das bênçãos concedidas por esse Deus Magnífico. 

Tire suas dúvidas sobre células-tronco

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Apesar de possíveis benefícios, uso ainda é polêmico
As células-tronco são vistas como uma fonte de grande potencial para curar uma enorme variedade de doenças.

Cientistas em todo o mundo estão desenvolvendo novas técnicas para melhorar cada vez mais o uso dessas células.
Apesar disso, o seu uso ainda é polêmico.
A seguir, as respostas para algumas das principais dúvidas sobre o assunto.
O que são células-tronco?
Muitas células do corpo de um adulto servem a uma função específica que não pode ser mudada. Por exemplo, uma célula do fígado se desenvolve para exercer determinadas tarefas e não poderá ser modificada para passar a funcionar como uma célula do coração.
Com as células-tronco, a situação é diferente. Elas estão em um estágio inicial de desenvolvimento e mantêm seu potencial de se transformar em qualquer tipo de célula quando adulta.
Por que elas são úteis?
Quando uma célula-tronco se multiplica, cada nova célula tem potencial para ou manter-se como célula-tronco ou se tornar uma célula com função específica.
Os cientistas acreditam ser possível controlar essa habilidade para transformar células-tronco em um “kit super-reparador” para o corpo humano.
Teoricamente, deveria ser possível usar células-tronco para produzir tecidos saudáveis capazes de substituir um que tenha sofrido danos ou um trauma, ou ainda que esteja comprometido por uma doença.
Entre os males que a ciência espera tratar com as células-tronco estão doenças cardíacas, derrame, artrite, diabetes, os males de Parkinson e de Alzheimer, além de queimaduras e lesões na coluna vertebral.
Células-tronco também podem ser úteis para o teste de novos remédios e vacinas.
Os cientistas esperam ainda que o estudo dessas células um dia os ajude a entender como os tecidos do corpo se formam e como uma doença o invade.
Existem tipos diferentes de células-tronco?
Sim. Os cientistas acreditam que as mais úteis são aquelas que vêm do tecido de embriões. Isso porque, nesse estágio, elas são “pluripotentes”, ou seja, são capazes de se transformar praticamente em qualquer célula do corpo humano.
As células-tronco também podem ser encontradas em órgãos adultos. Nesse caso, elas ainda não foram “incumbidas” de uma função e têm o potencial de se tornar uma célula ultraespecializada daquele órgão.
O papel delas é manter aquele órgão saudável, consertando qualquer dano que ele sofra.
Os cientistas, no entanto, crêem que as células-tronco adultas têm um potencial mais limitado de transformação do que as embrionárias. Mas já foi comprovado que, mesmo assim, elas são relativamente “moldáveis”.
As células-tronco podem ser facilmente criadas em laboratório?
Um grande número de células embrionárias pode ser facilmente criado e cultivado em laboratório.
Entretanto, células adultas são raras e a ciência ainda está tentando descobrir como criar um número suficiente delas em laboratório.
Essa é uma diferença importante entre esses dois tipos de células-tronco, já que os tratamentos precisam de um grande número delas para dar certo.
Mas as células adultas apresentam uma grande vantagem, que é o fato de, em tese, ser possível extrair células-tronco de um paciente, multiplicá-las em laboratório, e depois transplantá-las de volta, sem medo de uma rejeição por parte do organismo.
Por que o uso de células-tronco é tão polêmico?
Principalmente por causa das células embrionárias. Normalmente, elas são retiradas de embriões criados em laboratório, que têm apenas quatro ou cinco dias de vida e são um pouco maiores que uma bola microscópica de células.
Opositores argumentam que todos os embriões, sejam eles criados em laboratório ou não, têm potencial para se tornar um ser humano, e que seria amoral usá-los em experiências.
As células-tronco são seguras?
Alguns pesquisadores temem ser possível que um tratamento com células-tronco permita, sem querer, a transmissão de virus e bactérias para as pessoas que receberem tecido transplantado.
Existe ainda uma preocupação com o fato de as células-tronco hoje serem alimentadas com nutrientes de origem animal, que poderiam abrigar doenças.
Alguns cientistas já afirmaram também existe uma possibilidade de as células-tronco se tornarem cancerígenas.

CÉLULAS-TRONCO e BIOÉTICA

 

Sergio Ibiapina F. Costa· · Médico, professor de Bioética do curso de Direito do Instituto Camillo Filho

Recentes avanços nas pesquisas com células-tronco embrionárias têm proporcionado grande entusiasmo aos pesquisadores quanto à perspectiva de sucesso no tratamento de algumas enfermidades, a exemplo da doença de Parkinson, doença deAlzheimer e do diabetes melitus tipo 1. Simultaneamente, resultados promissores neste campo da área biomédica também têm concorrido para proporcionar acirrados debates éticos, sempre presentes quando do advento de novas tecnologias.

O principal desafio ético no tocante à obtenção das células-tronco embrionárias para uso terapêutico cinge-se à origem das mesmas. Não obstante haja comprovação de que as células-tronco do adulto também são capazes de se diferenciar, as pesquisas nessa área nos conduzem a selecionar, preferencialmente, células provenientes de pré-embriões (blastocistos) com idade entre 5 a 7 dias de desenvolvimento.

Um dos conflitos éticos para a escolha de pré-embriões na obtenção de células totipotentes consiste justamente em selecionar a origem dos mesmos. De onde obtêlos? De material procedente de abortos? De pré-embriões criopreservados? O estatuto do embrião é o mesmo, seja no útero, seja in-vitro? Qualquer que seja a fonte, inicia-se sempre a discussão ética sobre o estatuto moral do embrião. Indaga-se: qual o grau de respeito que se deve ter para com o mesmo? Há quem julgue que o embrião é defensável por se constituir em um ser geneticamente único e irreprodutível, pertencente a espécie homo sapiens. Constitui-se em um novo genoma, diferente do material genético que lhe foi herdado. Também é dotado de potencialidade de vida em constante desenvolvimento,capaz, portanto, de atingir o estágio somático e cognitivo de uma pessoa em sua plenitude.

Contrariamente aos argumentos supramencionados, há quem defenda que o pré-embrião constitui-se somente em um conjunto de células, sem qualquer semelhança com uma pessoa e, além do mais, destituído de auto-consciência. Nem por isso se deve perder o respeito pelo embrião, independentemente de ser ou não dotado, em fase inicial, de características que se assemelhem a um ser humano.

Não obstante argumentos conflitantes no campo moral nessa área, observas-se que a opinião de vários autores considera ser eticamente injustificável abortar um embrião, com a finalidade precípua de obter-se células-tronco embrionárias ou células germinais com o propósito de utilizá-las como terapêutica a qualquer pretexto. Agindo desta forma, não estaríamos respeitando o embrião como um fim em si mesmo, mas como um meio a ser usado por terceiros.

Levando-se em conta que grande número de pré-embriões crio-preservados são descartados após algum tempo de armazenagem ou podem permanecer estocados nos bancos com essa finalidade, sem que os pais biológicos reclamem, por eles após período superior a 3 anos, por que não utilizá-los em pesquisas? Afinal, estariam promovendo um gesto altruísta, a semelhança da doação de um órgão para transplante. Julgamos que a maioria dos casais consentem a doação dos embriões excedentes para uso em pesquisa ou com o propósito terapêutico, caso já tenham constituído a sua prole. Neste aspecto o legislador brasileiro seguiu a orientação de países que detêm conhecimento de vanguarda na utilização de células-tronco embrionárias. O art. 5º da Lei de Biossegurança sancionada recentemente assegura que: “É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização invitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições: a) que sejam embriões inviáveis; b) que sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação da Lei, ou que, já congelados na data da publicação da Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento. Por fim, em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores, e as instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão submeter seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética em pesquisa.”

Novos dilemas éticos envolvidos com a utilização dessa tecnologia poderiam ser levantados, a exemplo da possível destinação de células-tronco obtidas por transferência do núcleo de células somáticas do próprio receptor, ao gerar um blastocisto clonado. Seriam embriões produzidos pela junção de óvulos não fertilizados por espermatozóides, o que, teoricamente, reduz a possibilidade de rejeição, uma vez que o material genético a ser transferido presente no núcleo da célula do embrião doador pertence ao próprio receptor.

Por fim, ressalta-se ainda os aspectos que envolvem a confidencialidade, a privacidade e o patenteamento. Cada um desses tópicos ensejaria uma ampla discussão no campo da moral. Por esses motivos, convém ao pesquisador agir com prudência e responsabilidade, aprendendo com os erros do passado, deixando de lado os assomos sôfregos de vaidade que movem o entusiasmo, observe-se, a título de exemplo, o ocorrido quando se constatou os resultados precários na execução de procedimentos no campo da terapia gênica e da infusão de células fetais, descritas até recentemente como apanágio de doenças incuráveis. Sabe-se que o progresso com essas tecnologias continua muito aquém do esperado. Assim, haveremos de buscar na dedicação e na humildade dos cientistas os
primeiros passos rumo ao progresso da própria ciência.

O JACARÉ NA FILA

 

"Jacaré choca – olha olhão, crespido no lamal, feio mirando na gente".

João Guimarães Rosa. Grande Sertão Veredas.p.33

 

Paulo Volker

Neste momento, em algum corredor de alguma instituição publica de saúde, vários pacientes se encontram assentados ou em pé, parados e quietos com os olhos se movimentando lentamente, seguindo os profissionais de saúde que transitam de um lado para outro . É costume, no meio, chamar esses pacientes de "jacaré". Quando ouvi, pela primeira vez, a expressão "jacaré" se referindo aos usuários dos serviços públicos de saúde fiquei impressionado, não só pela afronta do apelido, mas também pelos vários significados e simbolismos que ele contem.

Afinal o que é o "jacaré" ? São as pessoas paradas, com os olhos fleumáticos, acompanhando os movimentos do medico ? São pessoas que, em se relevando o nível sócio-econômico, rastejam pelas instituições públicas ? Serão pessoas broncas, endurecidas pelas atrocidades que a miséria lhes impõe ? Ou homens e mulheres de corpos deformados pelo trabalho pesado e repetitivo do cotidiano ? A alcunha, por mais que seja perversa, tem este mérito, aponta todos estes aspectos de uma só vez.

Por ter esta capacidade de síntese, pesquiso a origem do apelido, a sua difusão, a sua incorporação, o seu uso. A sua capacidade de representar e se referir a uma realidade concreta, a sua simbologia. Como um profissional da área de saúde ouve pela primeira vez este estigma e passa a usá-lo ? Qual será o grau de discriminação que ele contem ? O referido sabe do epíteto ? Como reage ?

Quem tem algum conhecimento de antropologia ou da historia das religiões sabe que a figura ou o símbolo do jacaré (ou do crocodilo) é extremamente significativa. Na Bíblia, Livro de Jô, XLI, 16, surge a descrição do Leviatã, o monstro, o dragão, o jacaré, que quando se levanta faz tremer o mundo. Lenda igual existe na Amazônia, onde o ser Tyryryry manha, o jacaré, sustenta o mundo e quando ele se cansa, mudando de posição, provoca terremotos.

Em outras simbologias, o jacaré surge como a figura do diabo, em contraposição ao bem. Este maniqueísmo configura a humanidade de um lado e "o animal", o primitivo, de outro. Em todas as mitologias (e toda mitologia que se conhece no mundo tem seu dragão), o crocodilo ou a serpente ou o verme ou o jacaré tem esta característica do feio, do disforme, do teratológico. O termo jacaré, no Guarani (ja + care ) significa "o que é curvo", o torto.

É interessante destacar, que, geralmente, as mitologias dão ao jacaré a capacidade da vigilância, da vista aguçada, chegando alguns estudiosos a defender a tese de que a palavra tenha origem no termo DECEIN que significa vendo.

Sendo "o animal", no sentido mitológico, o jacaré deve ser vencido. Na luta entre as forcas primitivas (outra simbologia que povoa a maioria dos mitos) e a humanidade, é necessário superar esta capacidade destrutiva original (representada pelo “animal”) e organizar suas manifestações. Foi exatamente esse o papel das divindades organizadoras e mitológicas representadas por Mitra, Siegfried, Hercules, Zeus, Jasão, Horus, Coaraci e tantos outros.

Por outro lado, além deste significado destruidor e violento do jacaré, ele possui também aspecto anfíbio, pelo fato de estar entre as águas e a terra, o limo e a vegetação, dando origem então à sua característica de fecundidade. Deste modo, enquanto ser fecundo, o jacaré tem a capacidade de se multiplicar, dominando assim vastos territórios.

Já entre os egípcios era comum mumificar os mortos na forma de crocodilos, como um ritual consagrado à sabedoria. Foi exatamente este monstro, Amit, que impediu o equilíbrio da balança que deveria possibilitar o julgamento de Osíris, por devorar os contrapesos necessários para o equilíbrio.

Esta rápida passagem por alguns símbolos e mitos indica alguns significados importantes do apelido, mas acima de tudo, aponta para a possibilidade de compreendermos esta representação como algo mais profundo do que uma simples alcunha.

Se o apelido foi dado a partir do olhar, é possível entender que em algumas mitologias é exatamente o olhar do jacaré a sua característica mais importante. Ele vigia. Ao mesmo tempo ele é violento, destruidor, agressivo, primitivo. Quem nomeia o outro se vê como o seu contrário ou como seu semelhante. No primeiro caso, assume o papel do Zeus organizador, que deve controlar as forcas selvagens (muitos pacientes chegam a dizer que "é Deus no céu e o Doutor na terra"). No segundo, como membro do grupo, somos apenas mais sofisticados que nossos irmãos.

Seguindo a etimologia da palavra, quando dizem do "jacaré", falam do "deformado": o nosso povo: agredido por uma estrutura sócio-política-econômica que produz a miséria; que produz este limiar entre a civilização e a barbárie, entre a opulência e a mingua, onde fecundam de forma inacreditável, exatamente aqueles que mais padecem.

Guimarães Rosa fala com sabedoria, "Jacaré choca". Existe evidentemente muita distância entre a palavra, que usamos as vezes para denominar o usuário do serviço público de saúde e a imensa simbologia que ela evoca. Mas existem semelhanças também, tanto quanto existe preconceito, maniqueísmo e, por incrível que possa parecer, identidade.

A ÉTICA EM QUESTÃO

 

Paulo Volker

Quando uma sociedade começa a falar escandalosamente sobre transgressão e impunidade, não precisamos pensar muito para designar a sua doença: trata-se de enfermidade ética ! Do ponto de vista sociológico e antropológico não é uma raropatia . Muitas sociedades, nessa longa história do ser humano, padeceram desse mal. Em momentos de crise ou decadência, os limites são questionados ou simplesmente desrespeitados. A infração das leis torna-se um problema e os parâmetros legais já não são entendidos ou levados em conta. O descontrole e o descomedimento passam a imperar nas ações dos cidadãos e dos políticos.

Todas essa situação aponta para um único e mesmo lugar: a questão ética. Afinal, que lugar é esse ? É o lugar dos valores, o lugar das virtudes, o lugar onde a reflexão sobre o bem, o melhor, o comum e a moral se realiza. Evidentemente, se trata do lugar onde o ser humano guarda seus maiores tesouros espirituais.

Quando falamos de “tesouro espiritual” não nos referimos a nenhum lugar religioso ou moralista (no sentido dogmático), mas desse lugar onde a consciência humana atingiu seu mais alto desenvolvimento, porque se preocupou com a dignidade da sua existência. Essa dignidade é o cuidado com a sua morada interior e o rumo da vida das pessoas.

Quando uma sociedade passa a viver com a transgressão e a impunidade, ela revela um problema com a morada da consciência e o seu rumo. As atitudes da sociedade parecem dizer, “tudo vale”, “liberou geral”, “qualquer comportamento é possível, por mais absurdo que seja”. Ela de fato, diz isso e, ao mesmo tempo, passa a gritar “é um absurdo”, “é uma vergonha”, “precisamos passar a limpo tudo isso”, “basta”. Mas crianças continuam matando crianças; alunos atiram em nos professores; adultos seviciam crianças; drogas organizam e dominam os jovens; juizes se enriquecem roubando; políticos sulgam a riqueza da sociedade; polícia se alia a ladrão; governantes chefiam gangues .

Como é possível resolver esse problema ? Todas as pessoas de consciência lançam essa pergunta no ar. Nós, que temos como profissão pensar exatamente esse tipo de problema, respondemos: em primeiro lugar devemos dizer sinceramente: estamos mesmo dispostos a resolver esse problema ? Estamos dispostos a denunciar a nossa própria hipocrisia ? Estamos dispostos a enfrentar esses que gritam pela moralidade sob a luz dos holofotes e financiam a imoralidade nas sombras ? Esses que pregam pela punição dos assassinos e bandidos, mas fazem tráfico de armas ? Esses que gritam pela lei, mas são incapazes de respeitar um sinal de trânsito ?

Fazemos esse tipo de pergunta, porque é muito fácil dizer que existe a transgressão e a impunidade. Mas é muito difícil, nessa imensa crise, sermos legais e respeitosos. É mais fácil fechar olhos e ouvidos a tudo do que lutar diariamente para construirmos relações mais sadias e consistentes com nossos próprios vizinhos. É mais fácil cobrar medidas do governo e das autoridades, do que, a partir da integridade da nossa cidadania, sermos mais participativos, solidários e políticos. A ética fica em questão quando achamos que ela é um problema do outro, nunca um problema nosso.

Gaia, o planeta vivo

José Lutzenberger

Características Fundamentais
"Só uma visão sistêmica, unitária e sinfônica poderá nos aproximar de uma compreensão do que é nosso maravilhoso planeta vivo."(p.93, texto original de 1986)
Reverência pela Vida
"Só o cego intelectual, o imediatista, não se maravilha diante desta multiesplendorosa sinfonia, não se dá conta de que toda agressão a ela é uma agressão a nós mesmos, pois dela somos apenas parte. A contemplação o inimaginavelmente longo espaço de tempo que foi necessário para a elaboração da partitura e o que resta de tempo pela frente para um desdobramento ainda maior do espetáculo até que se apague o Sol só pode levar ao êxtase e à humildade. Assim, o grande Albert Schweitzer enunciou como princípio básico de Ética 'o princípio fundamental  da reverência pela Vida em todas as suas formas e manifestações'! Se há um pecado grave, esse é frear a Vida em seu desdobramento, eliminar espécies irremediavelmente, arrasar paisagens, matar oceanos." (p.85, texto original da década de 1970)
Tecnologias duras e brandas
"Ao contrário do que acontece com as tecnologias duras, que hoje arrasam o planeta porque, ao resolverem um problema, sempre causam uma constelação de outros, as tecnologias brandas sempre resolvem vários problemas ao mesmo tempo. Um exemplo apenas: hoje um pequeno matadouro é violento poluidor orgânico do curso d'água mais próximo. Se usasse os detritos em bioconversão adequada, teria gás para um motor estacionário ou para caldeiras (diminuição de demanda de eletricidade), produziria adubo para todo um esquema da hortas ou pomares orgânicos ao seu redor (produção de alimentos de alto teor biológico) e não mais largaria material orgânico no rio (não controle da poluição, sempre ineficaz, mas eliminação pura e simples da poluição).
As tecnologias brandas, que podemos chamar de tecnologias apropriadas, podem e devem entrosar-se em sistemas integrados." (p.61, texto original da década de 1970)
Ambiente Natural
"A visão cartesiana que ainda domina grande parte do pensamento científico atual coloca-nos como observadores externos da Natureza. Daí o conceito de 'ambiente natural'. O ambiente é visto como algo externo a nós, no qual estamos total e umbilicalmente imersos, é verdade, mas que não faz parte de nosso ser - uma dicotomia bem clara." (p.87, texto original  de 1986)
Pesquisas em Animais
"A Vida jamais poderá ser compreendida nos termos que queria Descartes que, nos seres vivos, com exceção dos Humanos, via simples máquinas, relógios ou autômatos; robôs, como diríamos hoje. Mas esta visão ainda está bem viva, muito viva, por exemplo, nos laboratórios de toxicologia da indústria química, que submete milhões de criaturas indefesas - macacos, cachorros, gatos, ratos, proquinhos-da-índia e outros - por ela simplesmente classificados de 'cobaias', a torturas indescritíveis para, que em enfoque ridiculamente bitolado, estabelecer, entre outras abstrações indecentes, a 'dose diária admissível' dos venenos com que fazem seus grandes negócios. Esta visão, é triste dizê-lo, é comum em muito curso e aula de biologia, e nas modernas fábricas de carnes e ovos, eufemisticamente chamadas de 'criação confinada' e 'aviários'." (p.93, texto original  de 1986)
Biologia Molecular
"Quando observo o trabalho dos biólogos moleculares, que se aprofundam sempre mais na dança das macromoléculas dos genes nos cromossomos, sem ligar para o organismo como um todo, me vem a imagem de alguém que, querendo conhecer e compreender os magníficos sistemas ferroviários europeus, por exemplo a Bundesbahn na Alemanha, se limitasse a estudar, com o microscópio, as letras nas tabelas dos grossos manuais de horários dos trens, e que passasse  a vida fazendo nada mais que isso.
Não deixa de ser muito interessante o que toda esta gente descobre e cataloga e, por isso, esses trabalhos são muito importantes; mas , desvinculados da visão do todo, nenhuma orientação ética nos proporcionam. Aliás, é dogma corrente em círculos científicos modernos que a ciência nada tem a ver com valores, com ética, com política, com religião." (p.94, texto original de 1986)
Estes textos foram selecionados com o objetivo de permitir um contato com o pensamento ecológico do Prof. José Lutzenberger. Este ecólogo gaúcho produziu idéias que em muito se aproximam das propostas da Ecologia Profunda do filósofo norueguês Arne Naess. Os textos, produzidos nas décadas de 1970 e 1980, expressam a posição do autor em diferentes áreas que podem auxiliar na reflexão dos aspectos éticos associados às questões ambientais.

Lutzenberger J. Gaia, o planeta vivo. Porto Alegre: L&PM, 1990.
Observação:

Em 15 de outubro de 2004, foi lançado o Livro "Sinfonia Inacabada: A Vida de José Lutzenmberger", de Liliam Dreyer (Porto Alegre: Vidicom, 2004). Lutzenberger foi realmente um grande professor para todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo. O livro relata passagens e textos que bem refletem a importância da obra de Lutzenberger para a nossa própria sobrevivência. O pensamento antecipatório e altamente integrador que ele possuía era sempre muito atraente, pois revelava uma grande sensibilidade ecológica, porém, também, causava estranheza ou descrença em outros. principalmente devido a sua incisiva argumentação. Uma frase, talvez, exprima este seu impacto sobre as pessoas:

Por que eu sempre nado contra a corrente? Porque só assim se chega às nascentes. (p.252)

Esta busca das origens dos problemas não era gratuita. Ela também pode ser entendida através de outra frase, de autor não identificado, retirada de uma entrevista da revista Der Spiegel, em 1970, que Lutzemberger sempre levava na sua carteira.

"Se alguma coisa dá errado, reflito sobre a maneira como posso transformar a situação problemática em uma vantagem. Esse é um truque muito importante na vida." (p.210)