domingo, 8 de maio de 2011

a ciencia nao explica tudo

São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2001 


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POLÊMICA

Robert Laughlin faz críticas ao reducionismo

Prêmio Nobel de Física afirma que a ciência não pode explicar tudo
MÓNICA SALOMONE
DO "EL PAÍS"

O físico norte-americano Robert Laughlin, 51, não sabe dizer como certos problemas são resolvidos. "Como as crianças aprendem a falar?" -pergunta. Responde encolhendo os ombros, dando a entender que talvez não haja resposta. Há alguns anos, dois colegas lhe mostraram um desconcertante fenômeno quântico, resultante de um experimento. Ele explicou o que estava acontecendo, e os três levaram o Prêmio Nobel de Física de 1998.
Laughlin é um físico teórico que relaciona áreas tão díspares quanto a do enovelamento de proteínas e a da supercondutividade em altas temperaturas. Atualmente, o cientista se dedica a promover uma idéia que ele sabe que incomoda muitos de seus colegas: a busca de uma teoria do todo, que explique o Universo inteiro, está desviando os físicos "daquilo em que sempre se baseou a ciência -as observações".
Laughlin proclama o "fim da ciência do passado" e defende um novo enfoque, que seja útil para abordar os "inúmeros" problemas ainda sem resposta -incluindo o de como surgiu a vida.
No trabalho que mereceu o Nobel, Laughlin demonstrou, com Horst Störmer e Daniel Tsui, que em determinadas condições elétrons podem formar novos tipos de partículas, cuja carga elétrica seria exatamente de um terço da carga do elétron. É uma descoberta sem utilidade concreta alguma, por ora, a não ser a de "ajudar a entender o mundo".
Laughlin usa essa reflexão para criticar a ciência atual, que ele reconhece estar especialmente interessado em divulgar. "Grande parte da física moderna se baseia em crenças reducionistas, mais do que em feitos experimentais, e isso será muito prejudicial para a ciência a longo prazo", adverte.
O reducionismo se concretiza na busca de um conjunto de equações capazes de descrever todos os fenômenos observados até agora e os que devam ser observados no futuro. "É a encarnação moderna do ideal reducionista dos gregos antigos, uma aproximação com o mundo natural que, para muitos, segue sendo o paradigma central da física", escreveu.
O problema, em sua opinião, é que uma teoria do todo jamais poderá explicar alguns dos problemas mais importantes da ciência atual, que têm a ver com a aparição de propriedades novas em sistemas construídos com um número elevado de partículas.
Muitos exemplos desses sistemas ocorrem na biologia: "Tentar predizer a função das proteínas ou o comportamento do cérebro humano a partir dessas equações é absurdo". Casos desse tipo também ocorrem na física, afirma Laughlin, como a supercondutividade em altas temperaturas, que continua sem explicação.
"É hoje um dos problemas mais importantes, porque a riqueza de seu comportamento sugere a presença de uma nova forma de emergência quântica."
Esses sistemas "são regulados por princípios superiores de organização", sendo invisíveis em escala microscópica -aquela na qual físicos atuais trabalham.
Além disso, como não há uma regra única que descreva esses sistemas, só é possível entender o seu funcionamento "mediante observação e conseguindo que teoria e experimentos dêem as mãos", afirma Laughlin